sexta-feira, 19 de outubro de 2012

As histórias sempre fascinaram o homem desde o início dos tempos. Representam um dos tesouros da humanidade. Hoje postamos mais um capítulo da grande história que é a Caravana RGE. Nossa oficineira Fernanda Walther nos mandou o texto abaixo. A história é sobre troca de conhecimento, empatia e amor a terra. Boa leitura!


Geração de Sementes


"Dona Maurecilda é uma senhora de uns 60 anos, diretora da Escola São Lourenço no Município de Coronel Pilar.
Eu, Fernanda, geração anos 80, Oficineira do Projeto, descobrindo que o tal meio ambiente é parte de mim e querendo mudar o caos mundial com ideias revolucionárias de um conceito chamado Permacultura.
Eu e Dona Maurecilda nos conhecemos no primeiro Seminário para Professores da Caravana RGE edição 2012/2013, em Bento Gonçalves/RS.
Dona Maurecilda é filha de agricultores da região e conta que até aos seus 18 anos não havia energia elétrica em casa. Ela e os irmãos acordavam cedo para a lida no campo e aproveitavam, com gratidão, a luz solar até o último minuto para os afazeres e brincadeiras. Ela diz que é por isso que passa boa parte do tempo apagando luzes na escola onde trabalha. Confessa orgulhosa, que desde que assumiu a direção da escola, a conta de luz reduziu em 40%. E eu? Que somente soube o que era viver sem energia elétrica quando um temporal fazia cair algum poste. Quando isso acontecia, lembro-me de pensar: já que não tem luz, vou ver televisão, já que não tem luz pra ligar a TV, vou escutar o rádio, ligar o microondas, ventilador, vídeo game... Só nesse momento lembrava que os aparelhos eletrônicos não funcionavam por si só, mas que precisavam de energia externa para suas funções serem realizadas.
Dona Maurecilda é uma mulher apaixonada por fazer pães caseiros no forno de barro e cultivar hortaliças no seu quintal. Sua produção de vegetais é tão abundante que ela e o marido não dão conta de consumir, por isso leva para escola e presenteia os professores com a sua riqueza verde. Entre tomates que pesam quase um quilo e variedades de morangas, ela me contou, em segredos, que cultiva e reproduz a mesma semente de chicória que sua bisavó cultivava, e que o buquê só pode ser pego “com um abraço largo”.
Eu, Fernanda, cresci sem plantar sementes na terra e vê-las desenvolver. Com 23 anos me apresentaram uma variedade de sementes e não pude distinguir nenhuma (nem a de tomate que comia tanto!). Resolvi pesquisar mais sobre o assunto e acabei percebendo que as sementes são as portadoras da vida, a esperança de prosperidade, alimento e entendimento ao mesmo tempo. Assim como nossas crianças, nossos anseios, nossos projetos e nós mesmos.
No final da Oficina, depois de muito aprendizado e troca de saberes com Dona  Maurecilda, concluímos as duas que falávamos sobre o mesmo tema com conceitos  diferentes.
É isso que eu compreendo que Permacultura é: uma ferramenta de reconexão com o ambiente e seu padrão sustentável de vida, com o intuito de trazer mais responsabilidade, troca, abundância, justiça, desenvolvimento e alegria ao nosso dia a dia.
Dona Maurecilda foi embora me agradecendo (e eu agradecendo a ela). Pegou meu endereço e prometeu enviar algumas de suas sementes por correio.
Eu, Fernanda, aguardo ansiosa a chegada da carta."


Fernanda Poletto Walther participa  dos Seminários Regionais de Educação do projeto Caravana RGE – Educando para a eficiência, ministrando a oficina “Ecologia e Padrões Energéticos no Ambiente Escolar – Compreendendo a energia das formas e fluxos energéticos no ambiente por meio da visão da Permacultura.”

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