As histórias sempre fascinaram o homem desde o início dos tempos. Representam um dos tesouros da humanidade. Hoje postamos mais um capítulo da grande história que é a Caravana RGE. Nossa oficineira Fernanda Walther nos mandou o texto abaixo. A história é sobre troca de conhecimento, empatia e amor a terra. Boa leitura!
Geração de Sementes
"Dona Maurecilda é uma senhora de uns 60 anos, diretora da Escola
São Lourenço no Município de Coronel Pilar.
Eu, Fernanda, geração anos 80, Oficineira do Projeto, descobrindo
que o tal meio ambiente é parte de mim e querendo mudar o caos mundial com
ideias revolucionárias de um conceito chamado Permacultura.
Eu e Dona Maurecilda nos conhecemos no primeiro Seminário para
Professores da Caravana RGE edição 2012/2013, em Bento Gonçalves/RS.
Dona Maurecilda é filha de agricultores da região e conta que até aos
seus 18 anos não havia energia elétrica em casa. Ela e os irmãos acordavam cedo
para a lida no campo e aproveitavam, com gratidão, a luz solar até o último
minuto para os afazeres e brincadeiras. Ela diz que é por isso que passa boa
parte do tempo apagando luzes na escola onde trabalha. Confessa orgulhosa, que
desde que assumiu a direção da escola, a conta de luz reduziu em 40%. E eu? Que
somente soube o que era viver sem energia elétrica quando um temporal fazia
cair algum poste. Quando isso acontecia, lembro-me de pensar: já que não tem
luz, vou ver televisão, já que não tem luz pra ligar a TV, vou escutar o rádio,
ligar o microondas, ventilador, vídeo game... Só nesse momento lembrava que os
aparelhos eletrônicos não funcionavam por si só, mas que precisavam de energia
externa para suas funções serem realizadas.
Dona Maurecilda é uma mulher apaixonada por fazer pães caseiros no
forno de barro e cultivar hortaliças no seu quintal. Sua produção de vegetais é
tão abundante que ela e o marido não dão conta de consumir, por isso leva para
escola e presenteia os professores com a sua riqueza verde. Entre tomates que
pesam quase um quilo e variedades de morangas, ela me contou, em segredos, que
cultiva e reproduz a mesma semente de chicória que sua bisavó cultivava, e que
o buquê só pode ser pego “com um abraço largo”.
Eu, Fernanda, cresci sem plantar sementes na terra e vê-las
desenvolver. Com 23 anos me apresentaram uma variedade de sementes e não pude
distinguir nenhuma (nem a de tomate que comia tanto!). Resolvi pesquisar mais
sobre o assunto e acabei percebendo que as sementes são as portadoras da vida,
a esperança de prosperidade, alimento e entendimento ao mesmo tempo. Assim como
nossas crianças, nossos anseios, nossos projetos e nós mesmos.
No final da Oficina, depois de muito aprendizado e troca de
saberes com Dona Maurecilda, concluímos
as duas que falávamos sobre o mesmo tema com conceitos diferentes.
É isso que eu compreendo que Permacultura é: uma ferramenta de
reconexão com o ambiente e seu padrão sustentável de vida, com o intuito de
trazer mais responsabilidade, troca, abundância, justiça, desenvolvimento e
alegria ao nosso dia a dia.
Dona Maurecilda foi embora me agradecendo (e eu agradecendo a
ela). Pegou meu endereço e prometeu enviar algumas de suas sementes por
correio.
Eu, Fernanda,
aguardo ansiosa a chegada da carta."
Fernanda Poletto Walther participa
dos Seminários Regionais de Educação do projeto Caravana RGE – Educando para a eficiência, ministrando a oficina
“Ecologia e Padrões Energéticos no Ambiente Escolar – Compreendendo a energia
das formas e fluxos energéticos no ambiente por meio da visão da Permacultura.”
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